Assisti "Era Uma Vez...", o segundo filme do Breno Silveira (diretor de 2 Filhos de Francisco), há muito tempo um filme não provoca em mim tanta reflexão, ou melhor, confusão; já durante a projeção foi um misto de raiva, tristeza, leveza, angústia, beleza e medo. Em vários momentos o filme é tenso, mas também é sensível e delicado. Vê-se um Rio de Janeiro bonito, incoerente, violento, atraente, repugnante, triste, colorido, impotente, imponente, forte, ensolarado, injusto, sensual, perdido e triste. Penso que o final poderia ser outro, não no sentido “e viveram felizes pra sempre”; mas menos, menos duro, menos sufocante, menos sem saída. Além da direção espetacular, sensível, mas seca e dura do Breno Silveira há também a bela direção de fotografia de Dudu Miranda e Paulo Souza. Nas atuações são destaques: Thiago Martins – um Dé perfeito, na medida certa; Vitória Frate; Rocco Pitanga e Paulo Cesar Grande - duas grandes surpresas; e Cyria Coentro (a mãe do Dé, acho que nunca vi essa atriz em cena) A trilha sonora também é outro destaque, delicada, poética, e cortante, tornando as cenas ainda mais fortes e impregnantes; e desde o início envolvendo e tomando o lado de cá da telona. Nos créditos o Thiago Martins faz um depoimento pessoal, contando um pouquinho da sua vida de morador de uma favela, e termina dizendo que acredita que se as pessoas olhassem mais um pouco umas para as outras, a vida podia ser diferente. É precisamos olhar mais uns para os outros, e pelos outros!!! Quando o filme acabou, não conseguia levantar da poltrona, estava tomado por tudo que vi, chocado em ver como, às vezes, o amor é impossível de se realizar, confuso, me sentindo suspenso, parado, preso, sem saber o que pensar e o que sentir. Não tem como não pensar nas injustiças, na loucura que vivemos, e no quanto cada um de nós contribui para que mais, e mais, se estabeleça e se mantenha uma separação, um corte; como o livro que os protagonistas lêem - “Cidade Partida” do Zuenir Ventura. Acho que é a primeira vez que assisto a um filme e saio me perguntando: "Indico ou não esse filme???" E até agora não sei!